1 de junho de 2012

Livres como o vento

Como em todas as experiências que vivemos, há emoções que não se esquecem, mesmo que possam ser vistas como algo banais ou fúteis. No entanto, são momentos que deixam marca. Devia ter uns 13 ou 14 anos, não mais, e numa escapadela de fim-de-semana com os meus primos fomos até à zona de Peniche, mais propriamente São Bernardino. Um local pacato, sem movimento, estradas rectas e longas (ou pelo menos assim me recordo), a típica brisa marítima que refresca no Verão mas que rapidamente se torna demasiado fria.
Chegados à casa onde íamos ficar, lá estava parada a um canto uma velha motorizada, daquelas que se vêem e ouvem com frequência nas zonas rurais. Perguntei se ainda funcionava e logo a resposta se transformou em evidência. Lembro-me perfeitamente daquele nervoso miudinho de subir pela primeira vez para cima de uma moto(rizada), ainda que como pendura, de ouvir o som estridente do motor a gritar rotação, de sentir aquela emoção de rolar sem precisar de pedalar. Em menos de nada, estávamos a queimar gasolina estrada acima, estrada abaixo, sem nada que nos pudesse parar. A emoção da aceleração que parecia alucinante, o riso nervoso e entusiasmante, as lágrimas arrancadas pela velocidade, o turbilhão de vento que me penteava o cabelo desprovido de capacete e todo o ruído incontrolável que a viagem oferecia. Simplesmente inesquecível. Marcante até hoje.
Há cerca de duas semanas, com menos irracionalidade, mas sem retirar todos os elementos de emoção ofereci à B. a sensação de andar pela primeira vez de mota. Foram breves momentos, mas suficientes, para que deixasse o vento atravessar-lhe os cabelos e transmitir-lhe um pouco das emoções que um dia também eu senti. Por momentos fizemos uma viagem só nossa que o brilho dos seus olhos registou como inesquecível.

2 comentários:

  1. Andas a envenenar o espírito da jovem...
    Sabes que um dia terá as suas consequências...

    O que relatas é uma verdade inquestionável...

    Mas ou menos com a mesma idade fui envenenado com os 2cv. E agora não os consigo largar...

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  2. O texto está muito bonito, tal como a experiência o terá sido para ambos, mas falta um grande LIKE para a foto! ;)

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